“Wordyssey”: десята країна

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Цього разу вірші Сергія Жадана, Маріанни Кіяновської, Олега Лишеги, Богдани Матіяш та Остапа Сливинського опинилися в гостях у перекладача, що народився та живе у Сальвадорі. Подейкують, саме в цьому місті зародилося всесвітньовідоме бразильське бойове мистецтво – капуейра. Наступним учасником проекту став 35-річний Хаген Кеннеді.

Хаген Кеннеді (Haggen Kennedy, 1979) – перекладач, вчитель, юрист та історик з міста Сальвадор (Бразилія). Отримав освіту у декількох вищих навчальних закладах Бразилії та Греції (Federal University of Bahia, Athens University, Bahian University of Law) здобуваючи знання з різних сфер. Перекладацькою діяльністю займається з 1997 року (переклади на португальську з англійської, іспанської та грецької). Зараз основною сферою діяльності є контрактна співпраця з посольствами, міжнародними організаціями та корпораціями різних країн (Організація Об’єднаних Націй, Британія, Швеція, Сполучені Штати, Німеччина, Бельгія, Греція, Бразилія).

Маріанна Кіяновська

Díptico
em Milos

Se a cidade onde tudo começou
não fosse uma cidade

um local e
não um ponto de interseção

não um conjunto de fotografias
de faces humanas carentes de faces

se o vento, se a neve
se os bosques de oliveiras, se os limoeiros
se o café, se o vinho
se tudo isto que sem exceção
esconde o meio livro
não deixasse manchas
sobre a pele, sobre o assoalho, digamos
enquanto nossas sombras arrastamos

se o passado houvesse passado inteiramente
ou houvesse passado com o supracitado
supracitado, pois sim

então o poeta poeta não seria mais que
um poeta
ou um poeta com o supracitado
ou simplesmente aquele que

sobe e desce
de cima para baixo
de baixo para cima

e assim por diante

a morte de um sol nas entrelinhas
e ao mesmo tempo nas atraslinhas
e um inteligente passarinho
não mais se quedaria em seu ninho, nem em sua gaiola

no cavanhaque, nem nos olhos
na mão, nem na boca

mas nalgum lugar dentro
no mais íntimo,
mais interno recanto

caminhando
vez que voar não poderia
decolaria e novamente, por fim, aterrissaria

e assim por diante

Сергій Жадан

Amor até a morte

Lembras-te daquela casa um tanto suspeita?
Ali sentamos, como zumbis desesperados.
O vai-e-vem inicial, o sono entre as cadeiras
no interior das banheiras, nas terríveis noites em hotéis,
agora a tua mão sobre o cálido tijolo,
seu calor, sua carne
um verdadeiro tijolo de barro.

Lembras-te daquele velho? Encontráramo-lo nas escadarias.
Espremera-se contra a parede para nos deixar passar,
Imóvel como um cadáver, o olhar de incredulidade em seus olhos esbugalhados.
Observava cada movimento teu,
deslumbrado pelo brilho
de teus resplandecentes tornozelos de porcelana
nos pilares de luz e sombras
sob a graça de teus joelhos, que exsudavam calidez.

O policial que então pedira para nos ver perguntou
cheio de suspeita: “Como é possível? Um mês! Um mês inteiro!
E não notastes sua ausência? Que não dava sinal de vida? Um mês?”
“A verdade é que não”, justifiquei. “Foi o mês mais lindo de minha vida”.
“E o cheiro abominável? Não vos estorvou aquele cheiro abominável?”
“Não. Por quê? A vida frequentemente é abominável.”
“Morreu em sua cama, sabíeis? Acima de vossas cabeças. Seu colchão afundara
e tocava o chão. Um pouco mais e o teto gotejaria”.

Naquele momento iniciou-se na janela o indescritível verão,
o rádio transmitia notícias pesarosas,
se moribundo fosse, a morte me teria encontrado ouvindo o noticiário.
Tomaste meu coração no momento em que parou e lhe realimentou esperanças
até que voltasse a bater em tua mão.
O que diz alguém que se volve para te ver?
Que pode dizer alguém que te enxerga?

Amor até a morte.
Amar-te-ia até a morte.
Dar-lhe-íamos primeiros socorros até que se levantasse
ou golfaríamos cavernas e túneis adentro.
Continuou, zumbi, a tinir seus ossos,
anunciou sua morte, preparou
seu banho destruído.
Canta aquilo que conheces melhor do que ninguém.
O tempo não nos transformará em escravos, nossa canção o repele.
Corre alegremente em nossa palma o amor
com o qual diariamente aguamos as flores
de nossas sepulturas.

Богдана Матіяш
***

Aqueles que amam, tocam; olha que lindos são
covardes como as primeiras luzes da alvorada
audazes como as pombas

aqueles que amam, olha o quanto são magnânimos
com que ternura aceitam o que lhes acontece
fita suas mãos, repletas de tesouros
suas mãos, seus olhos, sua diáfana felicidade
a serenidade em seus sorrisos bem-aventurados
a paz de uma suave brisa de verão

aqueles que amam são como os golfinhos
verdadeiros meninos de rua que d’água irrompem
centenas de ciclos ondeantes desenhando
à sua volta e aspergindo luz

ensinam-nos a gratidão pelo que existe e inexiste no mundo
ensinam-nos doce e bravamente a aproximarmo-nos dos outros
sem a caturrice do recuar

enquanto o fim de tarde lentamente apaga a luz, cala-se o passarinho
enquanto a água da terra inda jorra e corre

Остап Сливинський
Algo ali à frente esteve sempre à luz

Algo ali à frente esteve sempre à luz
e não era uma estaca
nem sinal de reza
nem lâmpada, nem farol,
nem qualquer residência,
nem caça nem luta de ninguém
que persistiria por aqueles lados,
nem homem nem animal,
nem árvore murcha
para cair em seu próprio purgatório,
indestrutível como a alma no interior do corpo resplandecente, nem
convite, nem dica, nem
nada
assim como nós que nos encontramos num impasse,
nada consolável quando estamos inconsoláveis
desalentador quando desistimos, desesperados, ante a derrota.
Surdo para orações e súplicas,
igualmente surdo em tempo de guerra e paz,
mas não menos preocupante se
nosso silêncio se prolonga.
Repleto de luz
para os pequenos príncipes continentais e para aqueles
que em escadas seguem um ao outro.

Míopes e cautelosos
como mães encarquilhadas.
E ausente a esperança, como
frequentemente acontece,
não há esperança,
é assim.

Олег Лишега

Canto 555

Se não é tarde demais: quebra o gelo com tua testa!
Se não é tarde demais: quebra o gelo com tua testa!
Sai da outra, anda!
Que o mundo, sublime, te reencontre!
A carpa faz exatamente o contrário,
é deixada nos abismos, nada aqui e acolá.
A carpa ali está
para ser capturada mais cedo ou mais tarde.
Tu, entretanto, és humano e não cairás na rede.
As carpas são bastante diferentes: tantos séculos em cardumes.
Espremem-se em terríveis e obscuros blocos de areia,
para reaparecerem do outro lado.
Mas não é buscado amiúde o nosso tempo?
Uma peninha fricciona-se contra a outra… e é isso!
Sentes-te abandonado? Mas és humano!
Não te tornes um covarde: hás de tudo conseguir.
Como não é tarde demais: quebra o gelo com tua testa!
Ó, vasto, fragmentado, milagroso, novo mundo!

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